A cultura “tapa buraco” na construção civil brasileira
- Engenheiro Allembert Santos

- 18 de fev. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 25 de mar.

Construções em concreto armado são o sistema estrutural mais utilizado no Brasil. É sabido por todos aqueles que atuam como gestores na construção civil brasileira, das infinitas dificuldades de mão de obra qualificada para a execução dos serviços com o mínimo de conformidades à luz das normas vigentes e das boas práticas da engenharia civil. Ao longo de anos atuando em obras das mais diversas especificidades, é notável uma cultura nacional em que é largamente difundida entre a população a ideia de que o mercado da construção civil pode absorver qualquer indivíduo em situação de penúria, ainda que sem qualificação nenhuma para a execução das atividades. Isto resulta em um quadro gigantesco de pessoas não qualificadas para uma execução minimamente técnica das atividades desempenhadas, tendo como consequência: vícios construtivos, não cumprimento de normas, patologias diversas, desperdício de materiais, acidentes de trabalho, sinistros de obras (desabamentos) e demais prejuízos que geram subtrações pecuniárias substanciais para as construtoras.
A defesa de que cabe às empresas fiscalizarem a execução das obras, é limitada. Para as empresas de maior porte, tal fiscalização pode ser atenuada por treinamentos prévios ao início das obras. Mas, para empreiteiras de pequeno e médio porte que atuam com obras menores, é desafiador contratar profissionais com conhecimento básico de obra dentro dos parâmetros normativos, além de não dispor dos mesmos recursos financeiros e de tempo das grandes construtoras de obras prediais para treinamentos. Outrossim, não é difícil encontrar casos de empreiteiras renomadas em que houve falhas de execução por má qualificação da mão de obra. A ideia de que um sujeito de qualquer outra profissão e que esteja fora do mercado de trabalho possa assumir qualquer vaga dentro de um canteiro de obras, deixa uma herança de patologias incontáveis em quase todas as obras de médio e pequeno porte. Tal conduta gera ainda ramificações da desvirtuação da qualificação técnica dos operários das diversas áreas da construção, criando profissionais “coringas” que exercem atividades generalizadas sem especialização em nenhuma delas.
A hipótese de a construção civil ser o abrigo dos desempregados momentâneos de outras profissões, o que é verossímil, nos remete a falsa impressão da abundante disponibilidade da mão de obra, pois não há! Há escassez de profissionais com domínio das funções de pedreiros, serventes, ajudantes práticos e armadores de ferragens, sendo estas as funções responsáveis por mais de 50% da execução de uma construção em concreto armado. Isto contribui para uma engenharia fraca, pouco técnica, não confiante e desacreditada, não bastando somente investir em treinamento e qualificação dos operários, é preciso ir em busca daqueles que são de fato da área e que querem permanecer e crescer nela aprimorando seus conhecimentos técnicos das atividades que desempenham, pois a alta rotatividade de pessoas que apenas atuam na área de forma passageira por estarem em situação de desemprego, prejudica profundamente o progresso da engenharia do nosso país.
Eng. Civil Allembert Santos Residente de obras




