O uso indevido de alvenaria como fôrma para concretar pilares e vigas de Concreto Armado

Na prática, tal execução é possível, mas, constitui em um sistema estrutural de Alvenaria Amarrada e não de Concreto Armado, esse sistema considera a alvenaria como participante da estrutura, isto é, a alvenaria recebe cargas. Essa é uma prática comumente vista em obras de pequeno e até de médio porte, a concretagem dos pilares projetados como concreto armado utilizando a alvenaria como fôrma lateral para economia de insumos. Tal prática pode resultar em manifestações patológicas se feita de maneira imprudente, isto é, sem respeitar a geometria da peça concretada. Na foto acima, é possível ver a alocação da armadura de um pilar ao lado da alvenaria de vedação, utilizando esta como fôrma lateral com os furos dos blocos abertos.

Ora, sabemos que pilares são peças que suportam preponderantemente esforços de compressão e que a resistência característica do concreto FCK, é constituída ao longo de cada cm² da peça. Sendo assim, ocorre que ao concretar um pilar utilizando a alvenaria como fôrma lateral com os furos dos blocos abertos, percebe-se que durante este procedimento o concreto irá adentrar nos furos, isto irá resultar em uma peça de forma geometrica indefinida, tornando-se uma peça com imperfeições nas superfícies laterais (famosas bicheiras ou nichos de concretagem) e ainda sem cobrimento de armaduras mínimo pré-estabelecidos pela NBR 6118:2014, além de que essa "amarração" do concreto aos furos do bloco, farão com que a alvenaria receba cargas que resultam no surgimento de fissuras. Outro problema que pode ocorrer é a retração, como vêmos na figura abaixo, o bloco absorve muita água do concreto. Para além dos problemas já elencados, em sí, o problema de projetar concreto armado e executar alvenaria amarrada, é que isto pode ocasionar diversas patologias futuras e uma subtração pecuniária para o cliente que terá que realizar reparos e talvez para o executor da obra por entregar coisa diversa do acordado, pois como já citado, a parede recebe cargas das quais não foi projetada para receber.

A questão que fica é: é possível utilizar a alvenaria como fôrma para pilares de concreto armado? E a resposta é: Sim, é! Desde que se faça o encabeçamento do bloco com argamassa de cimento e areia, traço sugerido de 1:9 que é um traço usual de reboco, fechando assim os furos e mantendo superfícies laterais uniformes para serem utilizadas como fôrmas e eliminando assim o desenvolvimento de manifestações patológicas por projetar um sistema e executar outro.

Ocorre que é muito difundido no meio da construção civil, a falsa crença de que é melhor concretar com furos abertos para melhor "ancoragem do concreto na alvenaria". Se o sistema estrutural for em CA, trata-se de um equivoco injustificável, já que as normas e dentre elas a NBR 14931:2004, nunca sugeriu a utilização de alvenaria como fôrma para concreto armado, ao contrário, a aludida norma cita em diversos trechos a importância de se respeitar a geometria das peças de concreto estabelecidas em projeto. A amarração dos painéis de alvenaria na estrutura devem ser feitas por meio de telas ou do popular ferro cabelo. As boas práticas da engenharia civil recomendam primariamente a execução da estrutura e que após a cura e remoção do escoramento, a estrutura naturalmente irá deformar para que posterior a isto se executem às vedações, evitando-se que a deformação da estrutura provoque manifestações patológicas nas alvenarias. Vale resssaltar quê, todas as vezes em que uma viga é concretada tendo como fôrma de base a alvenaria, isto caracteriza uma cinta de amarração e não uma viga de concreto armado que passa do estádio I para o estádio II de carregamento e transmite os esforços unicamente pelas vigas e pilares até a fundação, pois como não é respeitada uma folga para deformação (encunhamento), imediatamente após o carregamento serão transmitidos esforços para os painéis de alvenaria. E sendo mais preciso sobre a questão, tão logo a cinta for concretada, o seu peso próprio será imediatamente descarregado na parede, seguido das cargas subsequentes de alvenaria ou lajes executadas apoiadas nas cintas.

Eng. Civil Allembert Santos Residente de obras